segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Cemitérios de Carmo do Cajuru - construídos por escravos







Cemitério de Marimbondos


O cemitério dos escravos está localizado às margens da estrada que segue do distrito-sede do município para Angicos, dentro da propriedade de Luiz Rabelo. Está próximo à sede da fazenda, a cerca de 200m, onde também há um silo. No entorno do cemitério, há uma grande área de pastagem, e, à frente, após a estrada, há uma plantação de milho. Logo após o muro posterior, há torres de transmissão de energia elétrica em meio à área de pastagem.
Seu entorno imediato é fechado por cerca de arame farpado, esticado entre mourões de madeira. Há nas laterais árvores de médio porte em crescimento.
A história do Cemitério dos Escravos caracteriza-se pela oralidade das fontes de informações, não tendo sido encontrados registros documentais sobre sepultamentos no local48. Nele teriam sido enterrados escravos de uma fazenda localizada em suas proximidades, mas não há qualquer inscrição ou lápide em seu território. O conhecimento sobre sua história foi transmitido por uma descendente de escravos chamada Custódia49. Falecida há aproximadamente dez anos (final da década de 1990), Custódia foi funcionária da antiga Fazenda Maribondo, onde prestou serviços domésticos durante toda sua vida. Ao longo dos últimos anos, passou seus conhecimentos sobre o cemitério dos escravos e a vida de seus antepassados na fazenda para Maria Eunice Moreira de Souza, atualmente guardiã da história oral do local.
A antiga fazenda, atualmente de propriedade de Luiz Rabelo, era tipicamente escravista no período do regime de escravidão brasileira e, nessa época, um de seus proprietários, provavelmente o Capitão Custódio Nogueira Penido, teria cedido uma área de seu território para que ali fossem enterrados os escravos que haviam se dedicado ao trabalho na fazenda. Maria Eunice Moreira de Souza50 destaca que somente aqueles que eram reconhecidos pelo seu trabalho eram enterrados no local, pois os revoltosos e dissidentes eram jogados em valas.
O cemitério dos escravos apresenta uma área bastante restrita, medindo aproximadamente 9 metros de largura por 12 metros de profundidade. É cercado por pedras e possui uma abertura em sua parte frontal e outra na parte posterior. De acordo com Maria Eunice de Souza51, o muro de pedras era mais alto, tendo sofrido desgastes ao longo de seus mais de um século de existência. Aos fundos do terreno, centralizado, há um cruzeiro pintado na cor branca e os pés cercados de pedras. O cruzeiro é constituído por duas toras de madeira medindo 16,5 centímetros de espessura, altura de 340 cm, largura de 180 cm, e teria sido instalado há cerca de 10 anos por João Domingos e outros membros da Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário. Nessa época, eles reorganizaram o cemitério em mutirão, realizando principalmente uma limpeza na área que é periodicamente invadida pela vegetação, na medida em que não é utilizada frequentemente.
Atualmente, o cruzeiro encontra-se em estado precário de conservação, apresentando rachaduras em toda sua extensão, comprometimento da estrutura da madeira na base, caixas de joão-de-barro em sua haste horizontal e ataques de insetos nas extremidades. O cemitério conta, hoje, com 12 pequenas cruzes distribuídas em sua extensão, principalmente nas laterais, circundando o muro de pedras, que teriam sido instaladas pelo atual proprietário da fazenda, em substituição às antigas cruzes que havia no local, que foram se deteriorando pelas intempéries. São cruzes simbólicas, pois não indicam as sepulturas dos mortos, e também se encontram deterioradas pela ação do tempo.

48 Nas pesquisas que vem empreendendo sobre a escravidão em Carmo do Cajuru, o Prof. Oswaldo Diomar, escritor e pesquisador da
história local, afirma ainda não haver encontrado nenhum registro sobre sepultamentos no cemitério. DIOMAR, Oswaldo. Carmo do
Cajuru, M.G., 20 de fevereiro de 2008. Entrevista concedida a Carolina Capanema.
49 Não foi possível identificar o seu nome completo.
50 SOUZA, Maria Eunice Moreira de. Carmo do Cajuru, M.G., 20 de fevereiro de 2008. Entrevista concedida a Carolina Capanema.

Cemitério de São José dos Salgados



O cemitério está localizado no centro urbano do Distrito de São José dos Salgados, no topo de um morro, sendo visto da Igreja Matriz de São José. Na frente do cemitério, há uma praça, composta por uma rua central pavimentada em pé-de-moleque e dois canteiros laterais, cobertos por vegetação rasteira e algumas árvores de pequeno porte. Há arbustos também junto ao muro do cemitério. Na praça, há um cristo redentor  no canteiro da esquerda, e um orelhão na calçada em frente ao muro frontal da necrópole. Na lateral esquerda, vêem-se residências acompanhando a praça, de tipologia simples e volumetria térrea. Na frente da praça, há lotes vagos. Nos fundos do cemitério há uma fábrica de cerâmica. Na sua lateral esquerda, faz divisa com a rua Vereador Buque, cercado por muro de blocos de concreto, sendo essa a  parte incorporada há 12 anos ao cemitério. Segundo Oswaldo Diomar (2000, p.332) em  História de Carmo do Cajuru: 1747 a 2000 , o cemitério de São  José do Salgado foi construído em torno de um antigo cruzeiro que havia no local e ao pé do qual já haviam  sido sepultados alguns mortos. O primeiro corpo a ser sepultado teria sido de Maria Fernandes de Miranda, em 12/05/1914, como indica o mausoléu da família. Maria Fernandes de Miranda foi esposa de Quirino Quadros, um dos personagens mais importantes do distrito de São José dos Salgados, tendo deixado um grande número de descendentes. Quirino Quadros foi um dos principais doadores do patrimônio da capela primitiva de São José do Salgado, tendo sido proprietário de quase todo território que conforma o atual distrito. Foi também o primeiro inspetor escolar de instrução primária da localidade, nomeado em 1901 pelo município de Itaúna.  O cemitério de São José dos Salgados foi inaugurado em 1914, em local onde já eram enterrados alguns corpos. O terreno é em aclive e possui um muro em pedras, de aproximadamente 1,80 de altura e 50 cm de espessura, que envolve toda a sua parte antiga. Em 1986, houve uma ampliação e feita uma abertura no muro de pedras para a comunicação entre as partes. (Fonte: Inventário Municipal 2008- Prefeitura de Carmo do Cajuru)

Cemitério de Carmo do Cajuru



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